Vidas em contos

(por Rita Prates)

Sobre Elas Parte 7 – Laura

Sou solteira, tenho mais de cinquenta anos e me sinto desiludida e sem energia para encontrar um novo amor. Atualmente não tenho namorado fixo e nem flutuante. Estou só, absolutamente só. Isso não é privilegio meu. A maioria das minhas amigas está vivendo na mesma solidão. Algumas já foram casadas e outras, como eu, nunca tiveram a experiência de morar com um companheiro.

Tento achar que isso não importa. Bato na tecla que é melhor estar sozinha do que mal acompanhada. Corro risco de, com receio de não tentar, com medo de ousar, ficar sem história, sem memórias e sem a oportunidade de encontrar um verdadeiro amor.

Tenho amigas que entraram em uma furada, mas acharam que valia a pena o risco e se iludem para não ficarem a sós. Posso dar o exemplo de uma moça que foi amante de um rapaz por dezoito anos. Durante todo esse tempo ele prometia que, um dia, se separaria da mulher. Entretanto, com o passar do tempo, ela compreendeu que os tão sonhados finais de semana e festas comemorativas não aconteceriam com a presença dele, como sempre desejou. Restavam somente alguns encontros fortuitos durante o expediente de trabalho e umas poucas e inesquecíveis viagens de negócios a dois.

Durante esse período ele teve três filhos. Ela queria ter uma filha, fruto desse romance clandestino. Isto não aconteceu, porque ele não concordou, deixando-a ainda mais frustrada.  Quando a esposa adoeceu de câncer, pasmem! A minha amiga torcia para que ela morresse. Queria ocupar o seu lugar o mais rápido possível.

Há um mês, encontrei-me com ela em uma festa de comemoração dos dez anos de casamento de sua tia. O mais interessante era que a tia tinha sido, durante aproximadamente vinte anos, amante do atual marido. Casou-se com ele após a morte de sua mulher.

Perguntei-lhe se ainda estava namorando o homem casado e ela contou-me que, quando a mulher dele morreu, ele lhe deu um fora. Não quis saber mais dela.  Por fim, falou que estava de rolo com outro sujeito comprometido. Acreditava que em breve ele iria largar a mulher para ficar com ela. Pura ilusão.

Falo isso porque até essa migalha de amor eu estaria disposta a aceitar. Tenho inveja da minha amiga, apesar de saber que ela se ilude. Pelo menos ela tem alguém para abraçá-la e beijá-la, mesmo que seja a conta gotas.

Também tem um caso de uma conhecida, desquitada. Quando ela conhece um sujeito, se entrega por inteiro. Não dá outra, após o affair, recebe um chute no traseiro. Não tem retorno dos telefonemas e mensagens. Isso eu não quero para mim.

Ando com uma amiga que vive de recordações. Conta e reconta mil vezes histórias de quando namorou fulano e sicrano. Porém mal me lembro do último, pois já se passaram duas décadas. Ela sempre deixa o baú de recordações aberto à procura de fotos velhas e cartões amarelados. Vive presa ao passado, sem se abrir para o presente.

A solidão da alma e do corpo é muito grande. Saber que eu estou envelhecendo e não tenho ninguém por perto faz o meu coração se encher de angústia. Os meus pais já se foram, os meus irmãos têm as suas próprias famílias. Então vem o baque, você descobre que a sua sina é ter como companhia você mesma. Em parte é bom, mas tem horas que bate um vazio enorme.

O vácuo me assusta, o oco do nada ter, não em bens materiais, mas em afetos, me angustia. Hoje tenho amigas que estão no mesmo barco. Somos solidárias, nos divertimos e curtimos a vida. Amanhã poderei estar remando sozinha, o que é o mais provável. Gostaria de contar com um companheiro para compartilhar, sorrir, chorar, amar e admirar. Esse tempo preenchido a dois seria o ideal.

Tento não pensar que estou só. Tento levar a vida de forma mais leve, mas sempre estou esbarrando em casais, em beijos de novela e em livros de romance, aí desaguo, e volto a me questionar: porque estou só?

Quem me vê acha que estou bem, mas se a lupa atravessasse o meu ser, me enxergaria cheia de dúvidas. Tenho um pacto comigo de tentar ser feliz na minha condição de mulher solteira. Hoje estou aqui para buscar ajuda. Quero aprender a ser mais confiante, tirar as amarras que me sufocam e impedem de abrir para o amor.

– Solitária amiga, também me sinto, falou Tatiana olhando para todas, agora é a minha vez.

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Publicado em 16 de setembro de 2016 por e marcado .